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Agência Minas Gerais | Tratamento para sofrimento ou transtornos mentais está disponível na rede pública de saúde de todo o estado

“Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim”. A lista é bem extensa e, de acordo com a escritora Martha Medeiros, a dor que mais dói é a saudade. Mas há outras tantas invisíveis e silenciosas, como as dores das pessoas com sofrimento ou transtornos mentais.

Renata Rodrigues Martini, 40 anos, moradora de Lagoa Santa, é paciente do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município. Segundo ela, foi ali que encontrou acolhimento, apoio e pessoas aptas a ouvir e ajudar com as suas angústias.

“Iniciei o tratamento há quatro meses. Na verdade, retomei há quatro meses, porque comecei e interrompi por ter arrumado um trabalho e não tinha como vir para cá, então acabei me automedicando. Depois parei de tomar os remédios porque achei que já estava bem. Só que, nisso, deu um efeito rebote e precisei realmente estar mais assídua aqui no Caps para seguir com o tratamento correto, dando um passo de cada vez. Então agora venho diariamente”, relata ela, que prefere não falar sobre o diagnóstico.

A paciente reflete sobre as mudanças que o tratamento contínuo no Caps promoveu em sua vida. “Vejo uma Renata mudada, mais calma, mais branda, consciente, muito consciente do tratamento. Quando a gente sabe do que precisa, o que a gente quer para a nossa vida, fica mais fácil. Eu me sinto muito mais leve e confiante”, afirma.

Entre as várias atividades oferecidas no Caps, Renata demonstra preferência pelas oficinas de pintura, para a exibição de filmes e atividades de decoração do imóvel onde funciona o centro. Ela também comenta sobre a relação com os profissionais que ali trabalham. “O carinho que recebemos aqui é muito importante porque uma atenção, uma palavra, um olhar acalentado, nos deixam muito mais seguros para seguir com o tratamento, e aqui todo mundo é muito preparado”, salienta.

Embora com algum pesar, ela vê essa fase como uma nova oportunidade. “Os problemas que eu tinha, que eu tenho, são consequências de muitas atitudes que eu tive sem tratamento. É algo que colho hoje e não tem como voltar e fazer diferente, mas isso está me dando força para trabalhar minha nova versão e escrever uma nova história”, conclui com um sorriso.

De acordo com o psicólogo e coordenador do Departamento de Saúde Mental de Lagoa Santa, Maxwell Civinelli dos Santos, no Caps adulto do município são realizados cerca de 800 atendimentos por mês. Segundo ele, o maior desafio nesse contexto é o diagnóstico diferencial. “Há doenças que se parecem muito, com um conjunto de sintomas bem semelhantes, como o transtorno de personalidade bipolar e a esquizofrenia. Ter um diagnóstico correto da patologia é essencial para definir todo o caminho a ser percorrido durante o tratamento no Caps”.

Ele explica que, a partir da entrada do paciente na Rede de Atendimento Psicossocial, é desenvolvido um projeto terapêutico singular para tratar cada uma das demandas daquele indivíduo e de sua família.

Entre as atividades desenvolvidas nos Caps, o coordenador destaca as oficinas terapêuticas oferecidas, que incluem artesanato e diversas formas de produção cultural. “Essa atividade é de fundamental importância para a valorização pessoal dos pacientes, influindo na potencialização do tratamento oferecido, pois o sentimento de se sentir útil e visualizar o resultado do seu trabalho é parte importante do processo”, explica.

“É comum aos pacientes do serviço de saúde mental o sentimento de inutilidade, incapacidade e impotência. Buscamos dia a dia reverter essa sensação e mostrar para esse usuário que ele é capaz, e tem total condição de fazer e, eventualmente, gerar renda com a sua produção. Ou seja, ele pode estar momentaneamente prejudicado nas suas capacidades, mas esta não é a sua essência, ele é um ser capaz”, ressalta Maxwell.

Rede de Atenção Psicossocial em Minas Gerais

O Sistema Único de Saúde (SUS) possui serviços para assistência em saúde mental a toda a população que apresente sofrimento ou transtorno mental ou com necessidades de saúde decorrentes do uso prejudicial de álcool e drogas. A Rede de Atenção Psicossocial (Raps) é uma rede de serviços regionalizada de base territorial e comunitária onde a atenção deve ser realizada o mais próximo possível do usuário. Esses serviços atuam de forma articulada, inclusive com outras áreas, como assistência social, educação e direitos humanos para garantir o cuidado efetivo ao usuário.

“O cuidado em saúde mental ocorre na atenção primária, secundária e terciária, de acordo com a necessidade e condição clínica do paciente. A pessoa em sofrimento mental agudo e persistente deve procurar os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), postos de urgência e emergência, ou unidades básicas de saúde para que um profissional qualificado avalie o quadro e faça a intervenção necessária, seja iniciar o tratamento ou dar o encaminhamento para o serviço adequado”, explica a coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Taynara Fátima da Silva Paula.

“A saúde mental precisa ser discutida todo o ano. Mas, neste mês, o ‘Janeiro Branco’, intensificamos as discussões sobre essa temática e a importância da atuação da rede de cuidados”, destaca. “Os serviços que compõem a Raps são de gestão municipal. Por sua vez, a SES-MG financia tanto a implantação dos equipamentos da Raps quanto o seu custeio mensal. Em 2023, foram mais de R$ 120 milhões investidos para que os serviços de saúde mental tenham um atendimento cada vez mais qualificado e que a Raps seja cada vez mais robusta e fortalecida”, ressalta a coordenadora.

Minas Gerais conta com 424 Centros de Atenção Psicossocial, de diversas modalidades, sendo I, II ou III, de acordo com a população do município (até 15 mil, 70 mil ou mais de 150 mil habitantes, respectivamente), infanto-juvenil e AD (especialista em atendimento contra o álcool e outras drogas), compostos por equipe multiprofissional, médico-psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, entre outros. Além disso, o estado conta também com 606 leitos de saúde mental nos Hospitais Gerais.

Em 2023, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) investiu R$ 123 milhões da Rede de Atenção Psicossocial em todo estado, sendo R$ 15 milhões na Atenção Primária para o fortalecimento das Equipes Complementares de Saúde Psicossocial, das Equipes de Atenção Residencial de Caráter Transitório e das Equipes de Consultório na Rua; R$ 97 milhões para os Centros de Atenção Psicossocial e Serviços Residenciais Terapêuticos; e R$ 11 milhões em leitos de saúde mental nos Hospitais Gerais e no serviço hospitalar às pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas.

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