Ícone do site LIMEIRA NOTÍCIAS

Agência Minas Gerais | Banco de Leite da Maternidade Odete Valadares é referência no estado

A doação de leite materno é fundamental para ampliar as chances de recuperação de bebês prematuros ou de baixo peso que estão internados em UTIs neonatais, além de proporcionar um desenvolvimento mais saudável por toda a vida. Por isso, o Dia Mundial de Doação de Leite Humano, comemorado neste domingo (19/5), lembra a importância desse ato. 

O Brasil tem a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo, sendo referência internacional por utilizar estratégias que aliam baixo custo e alta qualidade e tecnologia. 

Esta importante rede realiza a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, englobando as ações de coleta, processamento e distribuição de leite humano para bebês prematuros ou de baixo peso que não podem ser alimentados pelas próprias mães, além de atendimento para apoio e orientação para o aleitamento materno.

Leite doado no BLH-MOV (Rafael Assis / Fhemig)

 

Minas Gerais conta com 13 Bancos de Leite Humano (BLH) e 30 Postos de Coleta de Leite Humano (PCLH) e toda mulher que estiver com excedente de leite pode ser doadora, basta estar em boas condições de saúde e não tomar medicamentos que interfiram na amamentação e doação. 

O BLH da Maternidade Odete Valadares (MOV), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), é referência, atendendo cerca de 100 bebês por mês, tanto internados na unidade quanto de outros hospitais parceiros do Estado. Atualmente, 83 doadoras estão cadastradas. 

A mulher que tiver interesse em doar leite humano pode procurar um dos postos de coleta ou o BLH mais próximo de sua residência. 

“Lá, ela receberá orientações quanto à forma e os cuidados necessários na extração do leite, armazenamento e transporte e assim contribuir para a nutrição de crianças”, explica Lírica Salluz, diretora de Gestão da Integralidade do Cuidado da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).  “Cada litro doado pode atender até 10 recém-nascidos e isso faz uma enorme diferença”, destaca.

A depender do peso do recém-nascido prematuro, 1 ml de leite pode ser a quantidade necessária para nutri-lo a cada refeição.

Gratidão

A pequena Liz nasceu com apenas 460 gramas, na Maternidade Odete Valadares, quando a mãe, Bruna Estevão, estava com 26 semanas de gestação. A bebê, que foi internada na UTI Neonatal da unidade, contou com o leite doado do BLH-MOV durante o mês, inclusive o ofertado pela própria mãe, até começar a apresentar uma intolerância à lactose, consequente da prematuridade. “Para o desenvolvimento dela foi muito bom, mas muito satisfatório para mim, pois o leite era a única coisa que eu poderia dar a ela naquele momento”, diz Bruna.

A mãe conta que, enquanto Liz tinha acesso ao leite materno, que era oferecido por meio de uma sonda, chegava a ganhar até 70 gramas por semana. Quando a fórmula foi introduzida, esse ganho reduziu para 16 gramas (no máximo) por semana, isso quando havia algum aumento. “Tiveram que acrescentar um fortificante à fórmula para esse peso subir”, lembra.

Liz só recebeu o leite por um mês, mas Bruna doou por um bom tempo, até sua produção acabar. “No início, eu ainda tinha a esperança de poder amamentar a Liz, então eu ia ao banco de leite para realizar o estímulo e doava. Chegou uma hora que o médico disse que amamentar seria difícil, mas continuei doando até a última gota”. 

De acordo com a mãe, o último frasco de leite doado por ela tinha apenas 20 ml de leite. “Entreguei com pesar, não apenas por ele não estar cheio, mas por saber que não iria mais poder doar. Quando eu estava com a Liz na UTI e via os potinhos chegando para os bebês, me dava uma alegria saber que um daqueles era o meu. Não consegui amamentar a Liz, mas alimentei uma UTI inteira por vários meses”.

Hoje Liz está com 1 ano e meio, saudável e se desenvolvendo bem. 

Entrega

A pedagoga Brenda Antônio é doadora do BLH pela segunda vez – agora, no terceiro filho, já oferta leite materno há quase um ano, chegando a doar dois litros por semana. Uma causa que ela abraça pela própria experiência. “Eu já estive do outro lado. Meus filhos mais velhos foram prematuros e ficaram na UTI, já vivenciei a importância do leite materno na vida dos bebês internados. Então para mim é de uma importância muito grande”.

Brenda Antônio está doando pela segunda vez (Arquivo pessoal)

Para Brenda, a atitude é uma forma de poder fazer pelo outro o que gostaria que tivessem feito por ela. “Meus filhos nasceram em maternidades privadas, e na primeira experiência a instituição não tinha banco de leite nem local para armazenar meu leite, de forma que quando eu não estava com ele, ele recebia fórmula”, recorda. 

Quem também contribuiu para o BLH, por um longo período, foi a cantora Gabi Mello. “Finalizei meu ciclo como doadora um mês antes de minha filha Clara completar dois anos de idade”, conta ela. 

Com uma rotina de shows à noite, estabelecer horários para as mamadas e ordenhas não era fácil. “Eu tirava o leite pra Clara e congelava, para ela mamar enquanto eu estivesse tocando, então acabava dividindo a quantidade entre doação e para congelar. Em alguns momentos, tirei depois do show, quando acontecia de ela pular uma mamada enquanto eu tocava”, explica Gabi.

Para a cantora, doar leite materno é um sentimento inexplicável. “É um amor que vai além da gente. Saber que eu ajudei tantos bebês a serem alimentados com o leite materno, que é de uma importância absurda, é uma gratidão enorme. Eu só tenho a agradecer a Deus por sempre ter tido muito leite para alimentar minha filha e ainda poder ajudar outras mamães e bebês. Aliás, ela mama até hoje (2 anos e 6 meses)!”, orgulha-se a mãe de Clara.    

Benefícios

Por ser um leite próprio para a espécie, pasteurizado e com todos os componentes, o leite humano é o ideal para bebês, que estão em um estado clínico desfavorável, conseguirem se recuperar mais rapidamente. 

De acordo com a coordenadora do BLH-MOV, Karine Antunes, trata-se de um leite que contém todos os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento dos bebês, e por isso é considerado o melhor alimento possível para eles. “O leite humano possui inúmeros benefícios imunológicos, protegendo contra alergias, infecções, intolerâncias, além de promover benefícios à visão, ao desenvolvimento do perímetro cefálico, entre outros”.

O leite materno também tem muitos benefícios a longo prazo. Para a mãe, previne contra o câncer de mama, de útero e ovários, diminui as chances de doenças como hipertensão e obesidade e também reduz as chances de depressão pós-parto. 

Para o bebê, diminui riscos de alergias, hipertensão, colesterol alto, obesidade, diabetes, diarreia, infecções respiratórias e mortalidade infantil. O leite materno contém todos os nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento da criança e promove um melhor desenvolvimento da cavidade bucal, auxiliando na introdução de novos alimentos e na fala.

Assim, o leite materno estimula a formação de adultos saudáveis, O contato contínuo favorece também o vínculo mãe-bebê e facilita o desenvolvimento emocional, cognitivo e sistema nervoso.

Toda doação é destinada aos bebês prematuros e prematuros extremos, que estão internados na UTI Neonatal ou na Unidade de Cuidados Intermediários da MOV e de outras unidades parceiras de Minas Gerais.

Doar é simples

A mãe que possui excedente de leite, que esteja amamentando exclusivamente ao seio materno e que deseja se cadastrar, deve ainda se encaixar no perfil de doadora, de acordo com as exigências da legislação que regulamenta o Banco de Leite.

“A doadora deve gozar de boa saúde, não usar medicamentos que têm contraindicação para a amamentação, como ansiolíticos e antidepressivos. Não pode fumar ou beber, além de não usar drogas ilícitas”, detalha Karine. 

Alguns exames do pré-natal são solicitados para preenchimento da ficha da doadora, como VDRL (Sífilis), HIV e Hepatite. 

Para doar, a mãe não precisa se deslocar. Caso esteja apta para doar o leite, o BLH-MOV envia todo o material necessário para a coleta e as profissionais vão até a residência da doadora uma vez por semana, para buscar os frascos com o leite que ela coletou. 

Todo leite doado passa por várias etapas rigorosas de seleção e análises microbiológicas, até ser pasteurizado e estar pronto para distribuição.

Armazenamento do leite no BLH-MOV (Renato Cobucci)

Cadastro e agendamento

Recentemente, o cadastro de doadoras para o Banco de Leite Humano, assim como a marcação de consultas para mulheres com dificuldades ao amamentar, passou a ser realizado por meio do Portal MG e do aplicativo MG App. Para marcar consulta ou se cadastrar como possível doadora de leite no Portal MG, as mães devem entrar utilizando o login da conta GOV.BR. 

Para doar leite, a interessada deve preencher um formulário on-line com dados sobre sua saúde e anexar os exames médicos requeridos pelo Ministério da Saúde para possíveis doadoras – os mesmos do pré-natal. 

As informações são enviadas para o banco de leite ou para o posto de coleta para avaliação e, após a análise, as mulheres recebem, por e-mail, o resultado informando se estão aptas ou não a doar. Em seguida, as doadoras receberão uma ligação da equipe do BLH ou do posto de coleta.

As mães que tiverem interesse em ser doadoras ou apresentarem dificuldades em relação ao aleitamento materno também podem entrar em contato com o Banco de Leite Humano da MOV pelos telefones (31) 3298-6008 ou 3337-5678, de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h ou das 13h às 17h. 

A Fhemig ainda possui dois postos de coleta em suas unidades: 

  • Hospital Júlia Kubitschek (Belo Horizonte) – (31) 3389-7880;
  • Hospital Regional João Penido (Juiz de Fora) –  (32) 3691-9500.

Incentivo

Com o objetivo de ampliar e fortalecer a rede de bancos de leite e postos de coleta, a SES-MG publicou as resoluções 8.466/22 e 8.467/22, que tratam da ampliação das redes de BHL e PCLH no Sistema Único de Saúde de Minas Gerais (SUS/MG), além do incentivo para reforma, construção, aquisição de equipamentos para essas novas estruturas e o custeio estadual para aqueles que estão em funcionamento. 

Os BLH e PCLH são financiados pelo Ministério da Saúde e Minas Gerais complementa este recurso com R$ 1.587.600 todo ano, para custeio e manutenção.

Sair da versão mobile