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Vítimas das enchentes esperam por moradias definitivas no RS  

Por MRNews

Há cerca de dois meses, o casal Danilo Hiedt e Liana Maria de Quadros vive em um contêiner de concreto, no local onde será construído um novo bairro residencial em Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, uma das regiões mais arrasadas do Rio Grande do Sul nas enchentes de maio de 2024.

Antes disso, eles passaram por outros abrigos e viveram na casa de parentes. Quase um ano após a catástrofe, eles se recordam em detalhes das horas de horror que viveram na zona rural do município, às margens do Rio Taquari, que superou a cota de inundação de 30 metros acima do leito normal naqueles primeiros dias de maio.  

“Lá saiu tudo de arrasto, tudo que nós tínhamos, a casa inteira, animais de criação, como bois de canga, ferramentas”, contou o agricultor de 65 anos, em conversa com à Agência Brasil.

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Cruzeiro do Sul (RS), 27/04/2025 – O casal Danilo Hiedt e Liana Quadros sobreviveram em uma canoa e aguardam agora por uma nova casa. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Eles resistiram por horas em uma canoa ou sobre o forro da casa até serem resgatados. Liane tinha operado o fêmur e ainda usava muletas. Ela passou a madrugada dentro de uma embarcação.

“Eu tinha que tomar meus remédios e bebi a água da enchente. Só deu tempo de pegar quatro bergamotas do pé, que a gente dividiu para comer. Era só o que tinha”, relatou a sobrevivente, que está com 64 anos.

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O casal conseguiu salvar a família, incluindo, filha, genro e netas, mas alguns amigos e vizinhos perderam a vida.

Boa parte dos 184 mortos nas enchentes do ano passado no Rio Grande do Sul são da região, sendo 13 apenas em Cruzeiro do Sul. E ainda há duas dezenas de desaparecidos, segundo a Defesa Civil estadual.

O novo loteamento, que está sendo construído pelo governo do estado, em parceria com a prefeitura, fica numa parte alta da cidade e vai se chamar Novo Passo da Estrela, em homenagem ao bairro que foi completamente destruído pela força da correnteza no ano passado.

A previsão é que as primeiras moradias definitivas, das 480 previstas, sejam entregues no final do ano.

Enquanto isso, essas casas temporárias, com 27 metros quadrados (m²), são compostas por dormitório, sala e cozinha conjugadas e banheiro, além de mobiliário, como mesa, armário, cama, beliche e eletrodomésticos da linha branca.

A entrega das moradias temporárias marcou o encerramento dos abrigos coletivos no município. ​

“Pode botar meu terreno aqui, que eu só atravesso a rua. A gente tem que brincar, fazer o quê. Chorar eu já chorei o que chega. Salvei minha família, conseguimos salvar todo mundo”, afirmou Liana, que agora espera por dias melhores.

Ambos receberam o Auxílio Reconstrução, do governo federal, no valor de R$ 5,1 mil, que ajudou a recuperar parte das perdas materiais.

Cruzeiro do Sul (RS), 27/04/2025 – Edevar Porto da Cruz é um dos moradores das casas temporárias. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Em outro contêiner, Edevar Porto da Cruz, de 67 anos, espera que a próxima mudança seja para uma moradia permanente. “O governador [Eduardo Leite] esteve aí essa semana, disse que até o fim do ano eles vão entregar um pouco [das casas] e depois até mais um ano [entrega o restante]”, observou.

Somente no município de Cruzeiro do Sul, 1.109 casas foram destruídas. Além do novo bairro, o programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, prevê a entrega de 500 unidades habitacionais, que ainda serão construídas.

Outras 50 famílias também já foram contempladas com a Compra Assistida, uma modalidade do programa federal que concede até R$ 200 mil para a compra direta de um imóvel já existente.

Parque Memorial

Em uma parte baixa de Cruzeiro do Sul, bem próxima ao Rio Taquari, o cenário após a tragédia era apocalíptico, com casas, carros e postes totalmente destruídos. Era ali que ficava o Passo da Estrela, bairro completo, com escola, igreja e posto de saúde.

Agora, o que se vê é um campo aberto de terra batida. As máquinas ainda trabalham para demolir o que restou das casas destruídas. O local dará lugar a um Parque Memorial, com área de vegetação, equipamentos para a prática de esportes e homenagem aos que morreram na catástrofe.

Das poucas casas que não foram interditadas na área onde ficava o bairro, está o imóvel de José Claudio Lenhardt, de 71 anos, e de sua esposa Rosane Lenhardt, de 67 anos. Eles estão entre os últimos moradores ali, mas não devem permanecer.

“Não adianta ficar aqui com essa preocupação de enchente, indo e voltando”, contou Rosane à Agência Brasil.

“A gente trabalha uma vida inteira para juntar alguma coisa e ter um futuro melhor e perder da noite para o dia, não é fácil”, afirmou José Claudio. 

Cruzeiro do Sul (RS), 27/04/2025 – Rosane e José Cláudio Lenhard irão deixar o bairro onde moravam e tinham uma olaria. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O casal tinha uma pequena olaria no terreno ao lado, que foi derrubada pelas águas. Eles vão se mudar para um outro loteamento na cidade, adquirido com recursos próprios, em parceria com outros vizinhos e amigos, e que atualmente está recebendo obras de encanamento e acesso à rede de energia elétrica.

Ela concorda com a extinção do bairro.

“Agora que arrancou tudo, é bom que não deixem mais ninguém voltar”, reforçou Rosane.

Demanda habitacional

Na região do Vale do Taquari, a situação das famílias que perderam suas casas é variada, mas a maioria ainda aguarda um lar definitivo.

Em Estrela, segundo a prefeitura, o número de famílias contempladas com aluguel social está em 516. Cerca de 100 casas começaram a ser construídas pelo Minha Casa, Minha Vida, e há ainda a previsão de mais 800 imóveis pelo mesmo programa.

Outras 60 famílias estão sendo contempladas com o Compra Assistida. Da parte do governo estadual, a previsão é construir 108 casas no município, que estão em diferentes fases de andamento.

Em Muçum, o governo municipal informou à reportagem que conta com três novos loteamentos habitacionais em áreas seguras, fora da zona de inundação.

“Todos são terrenos novos, nunca antes utilizados, sendo dois desapropriados pelo município e um pelo governo do estado”, disse a prefeitura, em nota.

Através do Minha Casa, Minha Vida Calamidade, voltado para áreas rurais, o município de Muçum informou ter sido contemplado com 17 residências, que devem ficar prontas em até seis meses e serão construídas em terrenos fora da mancha de inundação.

 

Cruzeiro do Sul (RS), 27/04/2025 – Bairro Passo de Estrela ficou totalmente destruído pelas enchentes de maio de 2024. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

No município de Lajeado, um dos mais populosos e prósperos do Vale do Taquari, cerca de 500 famílias recebem aluguel social calamidade enquanto aguardam residências definitivas pelos programas habitacionais, informou a prefeitura. Desde julho de 2024, não há mais abrigos ativos na cidade,

“Existem cerca de 700 casas definitivas previstas para Lajeado por meio de programas habitacionais dos governos e iniciativas privadas referentes às cheias de setembro de 2023 e maio de 2024. Existem seis residências entregues por uma ONG. As demais, estão em fase administrativa ou em construção”, informou a gestão municipal.

Em Arroio do Meio, o prefeito Sidnei Eckert informou à Agência Brasil que a demanda é por 700 novas moradias. “Governos federal e estadual são parceiros, mas burocracia consome muito tempo”, reclamou.

O município não apresentou balanço sobre o andamento das iniciativas de realocação de quem perdeu suas casas.

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